O interesse pelo uso do canabidiol (CBD) em medicina veterinária tem crescido em todo o mundo, especialmente em condições clínicas que afetam cães e gatos, como dor crônica, epilepsia, dermatites e ansiedade. Embora a regulamentação ainda esteja em desenvolvimento, os avanços científicos já fornecem evidências robustas sobre o potencial terapêutico do CBD em animais de companhia.
Assim como em humanos, cães e gatos possuem um sistema endocanabinoide (SEC), com receptores CB1 e CB2 distribuídos no sistema nervoso, pele, articulações e trato gastrointestinal. O CBD interage com esses receptores e também com canais iônicos (como TRPV1) e receptores serotoninérgicos (5-HT1A), modulando processos de inflamação, dor, estresse e convulsões.
Osteoartrite e dor crônica
A osteoartrite é uma das doenças mais estudadas no contexto do CBD veterinário. Ensaios clínicos mostram que a administração oral de CBD pode reduzir significativamente a dor e melhorar a mobilidade de cães. Um estudo realizado pela Cornell University demonstrou que doses de 2 mg/kg a cada 12 horas resultaram em maior conforto e atividade em cães com osteoartrite, além de permitir a redução do uso de analgésicos convencionais. Outros trabalhos também observaram melhora na qualidade de vida com doses ajustadas até 4 mg/kg/dia, ainda que acompanhadas por aumento moderado das enzimas hepáticas (fosfatase alcalina).
Epilepsia
A epilepsia refratária em cães é outra área de investigação. Estudos clínicos randomizados identificaram uma redução na frequência de crises convulsivas em cães suplementados com CBD em comparação ao placebo. Embora os resultados ainda sejam heterogêneos, os achados apontam para um potencial papel do CBD como adjuvante em protocolos terapêuticos.
Dermatologia e prurido
Na dermatologia veterinária, o CBD demonstrou efeito antipruriginoso em cães com dermatite atópica. Pesquisas relataram redução média de 65% da coceira, com parte dos animais apresentando melhora completa dos sintomas. Esse resultado é atribuído à ação anti-inflamatória do CBD e à modulação da resposta imune cutânea.
Ansiedade e comportamento
Outro campo promissor é o controle da ansiedade. Estudos experimentais revelaram que cães expostos a situações estressoras — como separação dos tutores ou ruídos intensos — apresentaram redução de comportamentos ansiosos após o uso de CBD. A hipótese é de que a ação sobre receptores serotoninérgicos contribua para o efeito ansiolítico.
Segurança e considerações clínicas
Os estudos em cães e gatos indicam que o CBD é geralmente seguro, mesmo em regimes prolongados, quando utilizado em doses de até 4–10 mg/kg/dia. Os efeitos adversos relatados incluem sonolência leve, diarreia e aumento de enzimas hepáticas, principalmente quando usado em associação a anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs). Por isso, o acompanhamento veterinário é essencial para monitorar respostas individuais e evitar interações medicamentosas.
Conclusão
O uso veterinário da cannabis apresenta evidências científicas consistentes em áreas como dor articular, epilepsia, prurido e ansiedade, oferecendo novas possibilidades terapêuticas para cães e gatos. No entanto, seu emprego deve ser sempre feito sob orientação profissional, respeitando particularidades individuais e garantindo a escolha de produtos de qualidade.
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Referências científicas
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